segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Mais um efeito reparador


Pesquisadores da Unifesp fazem células-tronco adultas repararem dano grave nos rins de ratas. A hipótese é que essas células liberam substâncias que estimulam as células-tronco do rim a fazer o reparo.

Pesquisadores paulistas extraíram células-tronco da medula óssea de ratos, as cultivaram no laboratório e as injetaram em ratas com infecção renal aguda e crônica. Essas células promoveram a recuperação do tecido danificado. (foto: NSF)

Mais uma para o currículo das células-tronco: foram capazes de reparar dano nos rins causado por insuficiência renal aguda e crônica. Os autores responsáveis pelo feito apresentaram o estudo na 26a Reunião Anual da Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe), realizada no Rio de Janeiro na semana passada.
As doenças renais hoje são epidêmicas, por isso estamos à procura de fenômenos de regeneração e prevenção de danos ao rim
A insuficiência renal aguda mata em 50% dos casos – se associada à infecção generalizada, as chances de morte chegam a 80% –, de acordo com o coordenador da pesquisa, o médico Nestor Schor, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). “As doenças renais hoje são epidêmicas, disse Schor. “Por isso estamos à procura de fenômenos de regeneração e prevenção de danos ao rim.”
O médico ressaltou que temos todo o ‘equipamento’ orgânico necessário para regenerar órgãos e membros, mas, diferente de uma lagartixa, que automaticamente recria a cauda perdida, nossas células-tronco precisam ser ativadas. “Há um mecanismo repressor dessa função e precisamos entendê-lo”, comentou.

Eficaz contra muitos

Os pesquisadores extraíram células-tronco adultas da medula óssea de ratos, as cultivaram no laboratório e as injetaram em ratas com infecção renal aguda e crônica. “Utilizamos células de ratos porque marcamos o cromossomo Y com uma técnica de imunofluorescência, o que nos permite rastrear as células-tronco após a injeção”, explicou Schor.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O HPV que se cuide


Vacinas terapêuticas contra o vírus do papiloma humano – voltadas a mulheres já infectadas – estão sendo testadas em humanos e poderão, em breve, chegar ao mercado. Hoje, apenas duas vacinas profiláticas contra o vírus estão disponíveis.

Estima-se que 18 entre 100 mil mulheres são infectadas por ano no Brasil pelos tipos de HPV de alto risco de câncer. Pesquisadores alemães e holandeses testam vacinas terapêuticas contra o vírus. (foto: Sanofi Pasteur – CC BY-NC-ND 2.0)


Em meados de 2006, a primeira vacina preventiva contra o vírus do papiloma humano (HPV) foi aprovada para comercialização em diversos países do mundo, inclusive no Brasil. Desde então, a principal investida científica de combate ao vírus e ao câncer de colo de útero tem sido no âmbito da vacinação – tanto profilática quanto terapêutica.
No Centro de Pesquisa Alemão sobre o Câncer, em Heidelberg (Alemanha), onde foi desenvolvida a vacina pioneira, pesquisadores trabalham desde 2001 numa vacina terapêutica que visa à imunização de pacientes infectados pelo HPV 16. Dos 120 tipos conhecidos, este é associado à metade dos casos de câncer cervical no mundo.
Diferentemente da maioria das vacinas terapêuticas, baseadas em peptídeos e proteínas, a vacina alemã utiliza um trecho de DNA como antígeno, o oncogene E7, que dá origem a uma proteína expressa exclusivamente por células infectadas pelo papilomavírus e interfere no processo de multiplicação celular.
Uma das vantagens de se usar esse antígeno é que ele não existe nas células de mamíferos, ou seja, nenhuma célula não infectada por HPV se tornará alvo da vacina. Outra é que vacinas a base de DNA envolvem menos custos, pois não requerem refrigeração para transporte e estocagem, além de serem mais estáveis do que as elaboradas com proteínas.

Vírus do papiloma humano. Nova vacina terapêutica alemã utiliza um trecho de DNA do vírus como antígeno. Assim, nenhuma célula não infectada por HPV se tornará alvo da vacina. (imagem: Governo Federal dos EUA)



Por outro lado, elas induzem uma reposta imune fraca e, portanto, pouco eficiente. Para superar essa barreira, os pesquisadores alemães combinaram o antígeno E7 com adjuvantes, compostos capazes de aumentar o sinal inflamatório para as células de defesa.
Perspectivas e limitações

Enquanto as vacinas profiláticas focam no estímulo à produção de anticorpos contra o envoltório viral, as vacinas terapêuticas incitam uma maior produção de linfócitos –células imunológicas – que atacam as células infectadas, infiltram-se no tumor e reduzem o seu volume.
No estudo, coordenado pelo oncologista Lutz Gissmann, após receberem a vacina, camundongos produziram um grande número de linfócitos. Mas sua capacidade de infiltração e redução do tumor foi bem-sucedida apenas para estágios iniciais da infecção – quando os tumores têm até 25 mm2. Já os tumores maiores, de 300 a 400 mm2, não regrediram.
“Todas as imunoterapias têm dificuldade em regredir grandes tumores”, lamenta a imunologista Ana Paula Lepique, da Universidade de São Paulo (USP). “Por isso alguns protocolos têm testado a remoção cirúrgica do tumor seguida da aplicação de uma vacina para dificultar sua reincidência.”
Na primeira fase de testes em humanos, a vacina será aplicada em cerca de 40 mulheres em estágio terminal, já que o objetivo será avaliar seu grau de segurança e imunogenicidade. Essa etapa será patrocinada por uma empresa farmacêutica privada.
“Não é fácil achar quem financie essa fase. São de 2 a 3 milhões de euros para implementá-la”
“Não é fácil achar quem financie essa fase”, diz o oncologista Lutz Gissmann, coordenador da pesquisa. “Os órgãos governamentais não estão interessados. São de 2 a 3 milhões de euros para implementá-la.”
Na Holanda, pesquisadores da Universidade de Leiden também despontam com outra vacina terapêutica, que já entrou na primeira fase de testes clínicos em humanos.
Diferente da vacina alemã, que usa trechos de DNA, e das que utilizam curtos pedaços de proteína, o mecanismo de imunização dessa vacina se baseou em longas sequências de peptídeos, retirados das oncoproteínas E6 e E7.
A opção por esse método veio da observação prévia de que, em algumas mulheres, o HPV não conseguia se esconder do sistema imunológico, fazendo com que estas respondessem com mais vigor à infecção pelo vírus. Verificou-se que essa vantagem vinha do reconhecimento de pedaços mais longos de proteínas virais.
Na primeira fase clínica, foram imunizadas 20 voluntárias. Três meses após a vacinação, cinco tiveram regressão completa da lesão e, em quatro, o vírus não era mais detectável. Após um ano, nove dos 11 pacientes restantes apresentaram resposta positiva.
Amostra de exame Papanicolau com uma célula atípica em rosa. O teste é uma das ações do Brasil para o controle do câncer de colo de útero no país. (imagem: Alex brollo CC BY-SA 3.0)


terça-feira, 16 de agosto de 2011

ESPAÇO DO LEITOR

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domingo, 14 de agosto de 2011

Um besouro de 115 milhões de anos

Inseto fóssil de grupo que reúne hoje algumas das principais pragas que atacam lavouras acaba de ser registrado no Brasil. A descrição da espécie, tema da coluna deste mês de Alexander Kellner, suscita uma nova possibilidade de coevolução entre plantas e insetos.


Um pequeno besouro de menos de 1 centímetro que viveu há 115 milhões de anos foi encontrado em rochas da Bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. (foto: José Ricardo Mermudes)

Não há como negar que os achados de animais vertebrados no registro fossilífero – tais como dinossauros e pterossauros – acabam despertando maior interesse nas pessoas do que notícias de trabalhos sobre invertebrados ou plantas.
No entanto, não são somente os ossos – alguns grandes, outros não – que trazem contribuições relevantes para a compreensão da evolução da vida no nosso planeta. Às vezes, o estudo de criaturas pequenas, que passam facilmente desapercebidas por pessoas distraídas, abre uma nova janela de possibilidades na pesquisa paleontológica.
Esse é justamente o caso de Arariperhinus monnei, um pequeno besouro de menos de 1 centímetro descoberto por Márcia F. de Aquino Santos (Museu Nacional/UFRJ) e colegas e cuja descrição acaba de ser publicada na revista Palaeontology.

Paraíso dos insetos fósseis

A nova espécie foi encontrada em uma rocha formada por calcário laminado que faz parte da Bacia do Araripe, uma das principais regiões para pesquisas paleontológicas do nosso país. Seus afloramentos se estendem pelos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
Rochas e fósseis encontrados na área revelam vários momentos distintos, mas dois são bem marcantes: a existência de um grande lago (ou um conjunto de lagos) de água doce de 115 milhões de anos que deu lugar a uma laguna (de água salgada) há 110 milhões de anos. As primeiras camadas da bacia recebem o nome de Formação Crato e as seguintes, de Formação Romualdo.
Já foram registradas nessa formação em torno de 300 (!) espécies diferentes de insetos
Arariperhinus monnei é procedente das camadas mais antigas, que revelaram também alguns peixes, penas e uma boa diversidade de plantas. Mas são os insetos, encontrados em grande quantidade e excepcionalmente bem preservados, que dão destaque à Formação Crato, cujas rochas podem ser consideradas um verdadeiro paraíso para quem se interessa por fósseis desses invertebrados.
Já foram registradas nessa formação em torno de 300 (!) espécies diferentes de insetos, que representam dezenas de grupos, desde libélulas até abelhas e mosquitos extintos. Mas são os coleópteros – mais conhecidos como besouros, entre eles, joaninhas e vaga-lumes – que dominam a fauna de insetos fósseis desse depósito, a exemplo do que ocorre nos dias de hoje.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Mais poluição, mais raios


Estudo correlaciona emissão de poluentes com a incidência dessas descargas elétricas nas cidades de São Paulo, Campinas e São José dos Campos. Mais relâmpagos ocorrem nos dias de semana, quando a circulação de veículos é maior.

Raios em São Vicente, município de São Paulo com mais de 330 mil habitantes. Segundo estudo do Inpe, a poluição pode aumentar a incidência dessas descargas elétricas nas grandes cidades. (foto: Rômulo Venâncio)
Muita gente não imagina, mas a poluição pode gerar mais raios nas cidades. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) observaram a ocorrência de relâmpagos nas cidades de Campinas, São Paulo e São José dos Campos durante 10 anos, entre 1999 e 2009, e verificaram que essas descargas elétricas são mais frequentes nos dias de semana que nos finais de semana, quando a emissão de poluentes é menor.
“Um ciclo semanal não é algo natural; se acontece, é devido a fatores externos”
“Um ciclo semanal não é algo natural; se acontece, é devido a fatores externos e acreditamos que a causa seja a grande quantidade de aerossóis nas grandes cidades, principalmente vindos dos veículos, que circulam mais durante a semana”, afirmou um dos autores da pesquisa, o meteorologista Wendell Farias, em apresentação do estudo nessa terça-feira (9/8) na 16ª Conferência Internacional de Eletricidade Atmosférica (ICAE).
Os aerossóis são partículas suspensas no ar, menores do que um grão de areia, com cerca de 100 micrômetros de diâmetro, que podem ter origem natural – na vegetação, no sal do mar e nas erupções de vulcões – ou em ações humanas – queima de combustíveis fósseis, alguns processos industriais e agrícolas e as minerações.
Farias explica que essas partículas interferem na estrutura das nuvens e, por isso, podem ser responsáveis pela ocorrência de raios. As nuvens formam-se por gotículas da água que evapora da superfície da Terra. Mas, em um ambiente poluído, a água evaporada chega ao céu e condensa em volta das partículas de aerossóis.
Por serem muito pequenos, os aerossóis induzem que as gotículas de água da nuvem sejam menores que o normal e se mantenham suspensas no ar por mais tempo, sem virarem chuva. O problema é que, enquanto a nuvem não precipita, essas gotículas colidem entre si e geram descargas elétricas.


terça-feira, 9 de agosto de 2011

Cogumelo que cura

Substâncias extraídas do cogumelo do sol poderão ser usadas no combate à leishmaniose. Medicamento desenvolvido a partir do fungo mostrou-se mais eficiente que os tradicionais no tratamento da doença em camundongos.
Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais identificaram no cogumelo do sol substâncias capazes de combater a leishmaniose. (foto: William Régis/ Minasfungi)


Um famoso cogumelo pode ser a mais nova arma na luta contra a leishmaniose. O Agaricus brasilienses, conhecido popularmente como cogumelo do sol, contém substâncias que combatem essa doença, que matou cerca de quatro mil pessoas no Brasil em 2009.
A descoberta é de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Em parceria com a cooperativa Minasfungi do Brasil Ltda, eles produziram um medicamento a partir do fungo para uso no tratamento da leishmaniose.
Normalmente negligenciada pelos grandes laboratórios farmacêuticos, a leishmaniose é causada por protozoários do gênero Leishmania, que são transmitidos ao homem pelo mosquito-palha após picar cães ou roedores infectados. A doença se manifesta de duas formas: a visceral, que afeta órgãos internos como fígado e baço; e a cutânea, que acomete a pele e as mucosas. Em casos mais graves, a forma visceral pode levar à morte e a cutânea, a lesões que desfiguram os pacientes.
Em 2009 foram registrados no Brasil 3.693 casos da leishmaniose visceral e 21.824 da cutânea
Segundo levantamento feito pelo Ministério da Saúde, em 2009 foram registrados no Brasil 3.693 casos da leishmaniose visceral e 21.824 da cutânea. Atualmente, o tratamento da doença é feito com medicamentos injetáveis chamados antimoniais pentavalentes.
Mas esse tipo de medicação pode gerar efeitos colaterais graves – como problemas cardíacos, hepáticos e renais –, em função de sua toxicidade elevada. “Além disso, há sempre o risco de recaídas”, acrescenta um dos coordenadores do estudo, o imunologista Eduardo Antonio Ferraz Coelho, do Colégio Técnico da UFMG.



Remédio mais eficiente

 

O novo medicamento, que será administrado por via oral, é composto por substâncias isoladas do cogumelo do sol. “Ao que tudo indica, elas são específicas do Agaricus brasilienses”, afirma Coelho. Em uma primeira fase de testes, a formulação farmacêutica desenvolvida pela equipe da UFMG eliminou cerca de 90% dos parasitas em experimentos in vitro.
Testado em camundongos, o remédio eliminou todos os parasitas no baço dos roedores e um grande número deles em outros órgãos. Segundo o pesquisador, o medicamento mostrou uma resposta melhor em comparação aos fármacos tradicionais usados no estudo, que reduziram uma quantidade satisfatória, mas não tão grande, de parasitas.
A nova substância obtida pelos pesquisadores também é capaz de preservar os macrófagos, células de defesa do corpo humano e que são as principais infectadas pelo parasita causador da leishmaniose.
No tratamento tradicional, a ação dos medicamentos não se restringe aos parasitas e pode destruir também as células normais. “Isso pode causar uma redução temporária de imunidade e deixar o paciente suscetível a outras doenças”, explica outro coordenador do estudo, o imunologista Carlos Alberto Pereira Tavares, do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG.
Além disso, o medicamento desenvolvido na UFMG deverá ter um custo menor. Segundo Eduardo Coelho, o tratamento atual é caro e as doses de medicamentos custam em média entre 100 e 150 dólares. “A produção de um remédio nacional e proveniente de um alimento irá baratear o tratamento”, avalia o pesquisador Wiliam César Bento Régis, da empresa Minasfungi do Brasil Ltda.

Os cães são os principais hospedeiros dos parasitas causadores da leishmaniose, como o protozoário ‘Leishmania tropica’. (foto: Yutaka Tsutsumi/ Fujita Health University School of Medicine)

“Para cada caso humano de leishmaniose, há cerca de dez mil casos em cães”, afirma Eduardo Coelho, acrescentando que o fato de muitos animais não manifestarem sintomas dificulta o controle da doença. Diante dessa alta taxa de infecção, os cães são um dos alvos prioritários para frear o contágio da leishmaniose.
O cogumelo do sol é classificado pela Agência Nacional de Saúde como um alimento nutracêutico, nomenclatura para produtos nutricionais que alegam ter valor terapêutico. O fungo é utilizado popularmente em alguns países para tratar doenças como a hipertensão arterial e o diabetes. Mas, segundo Coelho, ainda não há comprovações científicas de sua eficácia.
O pesquisador também ressalta que, na forma como é comercializado, o cogumelo não combate a leishmaniose. “Ele só se torna efetivo após os processos bioquímicos que realizamos em laboratório”, adverte. A previsão é que o medicamento esteja disponível no mercado daqui a cerca de três anos.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Vacina contra Hepatite C



Pesquisadores franceses desenvolvem vacina contra a hepatite C, doença que causa cirrose e câncer de fígado e que já se tornou uma “epidemia silenciosa”. O medicamento já mostrou bons resultados em testes com animais. 


Nova vacina contra a hepatite C deve ser testada em humanos no ano que vem. Mas, para isso, pesquisadores estão buscando recursos públicos. (foto: Danilevici Filip-E/ Sxc.hu)

A hepatite C é a principal causa de cirrose e de câncer de fígado no mundo. No Brasil, a doença já é uma epidemia, com 14.873 mortes registradas nos últimos dez anos. Não existe uma vacina para esse tipo de hepatite, que é o mais grave. Mas uma pesquisa publicada recentemente na Science Translational Medicine apresenta uma esperança: uma vacina que se mostrou eficiente em animais.
Desenvolvida por pesquisadores franceses, a nova vacina usa as chamadas ‘partículas semelhantes ao vírus’ (VLPs, na sigla em inglês) para induzir a produção de anticorpos neutralizantes do vírus da hepatite C (VHC) pelo sistema imune.
Essas partículas são uma espécie de ‘vírus oco’: têm as mesmas estruturas de um vírus, mas sem o material genético que o faz se replicar e causar a infecção. Ao serem injetadas na corrente sanguínea, as VLPs acionam a produção de anticorpos neutralizantes contra o vírus sem o risco de deixar a pessoa doente.
O VHC é altamente mutável e pode assumir várias formas. Essa característica faz com que 80% dos infectados não consigam se livrar do vírus e se tornem doentes crônicos, além de ser um empecilho para o desenvolvimento de vacinas.
A nova vacina contornou essa dificuldade. Por usar a estrutura externa do vírus, que não sofre tanta mutação quanto o seu material genético, ela foi capaz de induzir a produção de anticorpos que impediram a atuação das seis variações mais comuns do VHC, em macacos e camundongos.

As VLPs são semelhantes ao vírus: possuem a mesma carcaça de proteínas, mas não contêm o material genético que causa a infecção. (ilustração: Sofia Moutinho)


“Foi um feito extraordinário”, diz o líder da pesquisa David Klatzmann, da Escola de Medicina Pierre & Marie Curie, de Paris, um dos primeiros cientistas do mundo a isolar e caracterizar o vírus da Aids, o HIV, na década de 1990. 
O pesquisador aponta ainda que o uso das VLPs abre caminho não só para o controle da hepatite, mas também para outras doenças causadas por vírus mutáveis, como a dengue e a Aids.

Epidemia do século

A hepatite é considerada hoje uma epidemia silenciosa, que atinge 3% da população mundial. Como muitos dos infectados não desenvolvem sintomas, acabam transmitindo o vírus para outras pessoas pelo contato com o sangue infectado.
Klatzmann acredita que sua vacina veio em boa hora e alerta para as perspectivas de expansão da doença pelo mundo. “Até o final do século haverá mais pessoas infectadas com hepatite C do que com Aids”, diz. “Precisamos achar um modo de deter a propagação dessa infecção e a nossa vacina parece um bom começo.”
Para o médico Giovanni Faria, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp), a perspectiva de uma vacina para hepatite é ótima, mas ela será mais bem aproveitada para determinados grupos do que para a sociedade em geral.
“O boom da hepatite foi antes dos anos 1980, quando ainda não se conhecia o vírus; a maioria dos infectados contraiu a doença nessa época”, conta. “Hoje a transmissão é bem menor e se dá principalmente entre os usuários de droga que compartilham seringas. A vacina será mais relevante para esse grupo de risco.”
Atualmente, o tratamento da doença é realizado com a associação de dois medicamentos, o interferon e a ribavirina, e a cura só é obtida em aproximadamente 48% dos casos. 
Ainda assim, o avanço obtido com a vacina vai depender do poder público para se tornar aplicável. Klatzmann acredita que será difícil conseguir recursos junto a empresas privadas para dar continuidade às pesquisas e comercializar a vacina.
“A vacina preventiva contra a hepatite C não é de interesse comercial para as grandes companhias de vacina; não há tanto uso para elas nos países desenvolvidos do Ocidente, que têm recursos para o tratamento da doença”, diz. 
O pesquisador avisa que já busca por financiamento nas agências públicas da França e espera começar os testes clínicos com a vacina em humanos já no ano que vem.



sábado, 6 de agosto de 2011

Um novo olhar sobre a obesidade


Tradicionalmente associado a estilo de vida, alterações hormonais ou predisposição genética, o excesso de peso tem sido relacionado nos últimos anos a um novo fator: a composição da flora intestinal. Essa descoberta é o tema deste mês da coluna de Jerry Borges.



Se você tem tendência a acumular peso, possivelmente já tentou se livrar dos excessos de suas medidas por meio de alguma dieta. E, provavelmente, assim como acontece com a maioria das pessoas, os seus esforços proporcionaram resultados passageiros e, após algum tempo, o seu peso anterior retornou, às vezes até com alguns quilinhos a mais.
Mas por que isso ocorre? E por que algumas pessoas têm dificuldades enormes para alcançar e manter um peso normal, enquanto alguns felizardos podem comer despreocupadamente, sem ganharem um único grama em suas medidas? As respostas a essas dúvidas, infelizmente, ainda não são conclusivas.
A obesidade tornou-se uma tragédia planetária moderna que consome a saúde de centenas de milhões de pessoas devido a sua associação com problemas circulatórios, diabetes do tipo 2, osteoartrite etc. Por isso, há um enorme interesse da ciência em compreender os fatores associados à obesidade.
Não há dúvidas de que a obesidade se deve ao descontrole entre a quantidade do que é ingerido pelo indivíduo e do que é gasto em seu metabolismo. Mas ainda há controvérsias sobre quais fatores predispõem alguns indivíduos à obesidade enquanto poupam outros.
Historicamente, a maior parte dos estudiosos sobre esse tema tem se dedicado a associar a obesidade com o estilo de vida, com alterações hormonais ou com uma predisposição genética. Contudo, evidências epidemiológicas sugerem que o constante aumento na obesidade mundial não está associado somente a esses fatores tradicionalmente estudados.
Uma reviravolta sobre as causas e eventos associados ao excesso de peso iniciou-se há cerca de seis anos, quando pesquisadores liderados por Jeffrey Gordon, da Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, começaram a associar o problema à composição da flora intestinal dos indivíduos.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Luan Santana pede perdão a fãs pernambucanos



O astro sertanejo Luan Santana decidiu doar a instituições de caridade de Recife (PE) o cachê por sua participação no megashow ‘O Maior Show do Mundo’, que aconteceu na cidade no último dia 30. E mais: não se cansa de pedir desculpas aos pernambucanos.
O ídolo se atrasou por quase duas horas para subir ao palco, irritando os organizadores do evento e também causando desconforto no público. O produtor do evento, Augusto Acioli, também chegou a demonstrar sua indignação pelo Twitter: “A pior coisa no meu trabalho é ter que, às vezes, trabalhar com artista irresponsável”.
A resposta inicial de Luan também veio por meio de seu Twitter oficial. Depois de pedir desculpas ele alegou que o atraso se deu devido a problemas com o avião que o transportava. E na manhã do dia 1 de agosto anunciou em seu microblog a decisão de doar seu cachê aos mais carentes da cidade.
Em seguida a assessoria de imprensa do artista confimou a decisão em comunicado oficial no blog de Luan, garantindo: o cantor também faz questão de entregar pessoalmente as doações.
Por conta do atraso, Luan, que deveria iniciar seu show às 20 horas, fez o público esperá-lo por quase duas horas embaixo de forte chuva e se apresentou somente por 40 minutos. A assessoria explica que ele tinha intenção de se apresentar por 1h30, mas encurtou o espetáculo atendendo a uma recomendação dos produtores do evento. Tanto que ele voltou ao palco para cantar junto com Ivete Sangalo, ao final. E, como de costume, arrasou! Passada a confusão, os milhares de fãs do intérprete de sucessos como Meteoro e Amar não é Pecado certamente entenderam que incidentes acontecem.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Vacinas que visam imunizar contra as drogas, outro uso para a seringa"


Cientistas internacionais apostam na criação de vacinas que anulam o efeito psicoativo de drogas como heroína, cocaína e nicotina. (foto: Brian Hoskins-Stock/ Exchange.

Pesquisadores investem na criação de vacinas que deixam o usuário de drogas imune à sensação de euforia que leva ao vício. O medicamento pode ser o futuro do tratamento para dependência química, mas só é eficiente se o paciente estiver motivado a parar.


A morte da polêmica cantora inglesa Amy Winehouse, provavelmente por overdose, trouxe novamente à discussão o problema da dependência química. Muitos cientistas acreditam que cortar o “barato” das drogas é o primeiro passo para solucionar esse problema e por isso investem no desenvolvimento de vacinas contra o efeito dessas substâncias.
Desde a década de 1990, pesquisadores estrangeiros pesquisam esse tipo de medicamento que, depois de injetado por alguns meses, faz com que o organismo passe a encarar como uma ameaça as moléculas de determinadas drogas.
O neurocientista e psiquiatra Thomas Kosten, da Universidade Baylor, nos Estados Unidos, foi um dos primeiros a estudar esse tipo de tratamento, há 16 anos. Até hoje Kosten desenvolve e aperfeiçoa uma vacina contra os efeitos da cocaína.
A vacina de Kosten, e todas as outras que vieram depois, associam as moléculas de determinada droga a uma proteína que o nosso organismo reconhece como prejudicial, já que normalmente o nosso corpo não percebe a droga como um elemento estranho. Sem o efeito alucinógeno, espera-se que o usuário perca a vontade de consumir a droga.
Com essa associação induzida, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos que atacam a droga na corrente sanguínea e a impedem de chegar até o cérebro, onde provocariam o estado de euforia. Sem esse efeito, espera-se que o usuário perca a vontade de consumir o alucinógeno.
“É muito comum que, em algum momento, os usuários de droga em processo de recuperação caiam na tentação, mas aqueles vacinados não vão ficar “altos” e vão perder o interesse na droga”, explica Kosten. 
O pesquisador associou uma molécula de cocaína a uma proteína desativada de cólera para dar o alerta ao sistema imunológico. Em uma primeira fase de estudo, foram feitos testes com camundongos que reagiram satisfatoriamente à vacina. Em 2007, o medicamento foi testado pela primeira vez com pessoas.

As vacinas fazem com que o organismo perceba a molécula de droga como uma ameaça. Assim, os anticorpos a atacam e a impedem de percorrer a corrente sanguínea até chegar ao cérebro. (ilustração: Sofia Moutinho)

O resultado com humanos não foi tão positivo. Cerca de 40% dos usuários de droga vacinados não desenvolveram uma quantidade suficiente de anticorpos para bloquear o efeito da cocaína no cérebro. Além disso, alguns dos pacientes passaram a consumir dez vezes mais cocaína na tentativa de alcançar novamente o “barato” que a droga oferecia. 
“As pessoas têm uma diversidade genética muito maior do que os camundongos, por isso a resposta diferente; mas ainda assim a vacina é um grande avanço", explica Kosten, que conduz atualmente um segundo grupo de testes clínicos com previsão de término em 2014.