Estudo correlaciona emissão de poluentes com a incidência dessas descargas elétricas nas cidades de São Paulo, Campinas e São José dos Campos. Mais relâmpagos ocorrem nos dias de semana, quando a circulação de veículos é maior.
Raios em São Vicente, município de São Paulo com mais de 330 mil habitantes. Segundo estudo do Inpe, a poluição pode aumentar a incidência dessas descargas elétricas nas grandes cidades. (foto: Rômulo Venâncio)
Muita gente não imagina, mas a poluição pode gerar mais raios nas cidades. Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) observaram a ocorrência de relâmpagos nas cidades de Campinas, São Paulo e São José dos Campos durante 10 anos, entre 1999 e 2009, e verificaram que essas descargas elétricas são mais frequentes nos dias de semana que nos finais de semana, quando a emissão de poluentes é menor.
“Um ciclo semanal não é algo natural; se acontece, é devido a fatores externos”
“Um ciclo semanal não é algo natural; se acontece, é devido a fatores externos e acreditamos que a causa seja a grande quantidade de aerossóis nas grandes cidades, principalmente vindos dos veículos, que circulam mais durante a semana”, afirmou um dos autores da pesquisa, o meteorologista Wendell Farias, em apresentação do estudo nessa terça-feira (9/8) na 16ª Conferência Internacional de Eletricidade Atmosférica (ICAE).
Os aerossóis são partículas suspensas no ar, menores do que um grão de areia, com cerca de 100 micrômetros de diâmetro, que podem ter origem natural – na vegetação, no sal do mar e nas erupções de vulcões – ou em ações humanas – queima de combustíveis fósseis, alguns processos industriais e agrícolas e as minerações.
Farias explica que essas partículas interferem na estrutura das nuvens e, por isso, podem ser responsáveis pela ocorrência de raios. As nuvens formam-se por gotículas da água que evapora da superfície da Terra. Mas, em um ambiente poluído, a água evaporada chega ao céu e condensa em volta das partículas de aerossóis.
Por serem muito pequenos, os aerossóis induzem que as gotículas de água da nuvem sejam menores que o normal e se mantenham suspensas no ar por mais tempo, sem virarem chuva. O problema é que, enquanto a nuvem não precipita, essas gotículas colidem entre si e geram descargas elétricas.