quinta-feira, 4 de agosto de 2011

"Vacinas que visam imunizar contra as drogas, outro uso para a seringa"


Cientistas internacionais apostam na criação de vacinas que anulam o efeito psicoativo de drogas como heroína, cocaína e nicotina. (foto: Brian Hoskins-Stock/ Exchange.

Pesquisadores investem na criação de vacinas que deixam o usuário de drogas imune à sensação de euforia que leva ao vício. O medicamento pode ser o futuro do tratamento para dependência química, mas só é eficiente se o paciente estiver motivado a parar.


A morte da polêmica cantora inglesa Amy Winehouse, provavelmente por overdose, trouxe novamente à discussão o problema da dependência química. Muitos cientistas acreditam que cortar o “barato” das drogas é o primeiro passo para solucionar esse problema e por isso investem no desenvolvimento de vacinas contra o efeito dessas substâncias.
Desde a década de 1990, pesquisadores estrangeiros pesquisam esse tipo de medicamento que, depois de injetado por alguns meses, faz com que o organismo passe a encarar como uma ameaça as moléculas de determinadas drogas.
O neurocientista e psiquiatra Thomas Kosten, da Universidade Baylor, nos Estados Unidos, foi um dos primeiros a estudar esse tipo de tratamento, há 16 anos. Até hoje Kosten desenvolve e aperfeiçoa uma vacina contra os efeitos da cocaína.
A vacina de Kosten, e todas as outras que vieram depois, associam as moléculas de determinada droga a uma proteína que o nosso organismo reconhece como prejudicial, já que normalmente o nosso corpo não percebe a droga como um elemento estranho. Sem o efeito alucinógeno, espera-se que o usuário perca a vontade de consumir a droga.
Com essa associação induzida, o sistema imunológico começa a produzir anticorpos que atacam a droga na corrente sanguínea e a impedem de chegar até o cérebro, onde provocariam o estado de euforia. Sem esse efeito, espera-se que o usuário perca a vontade de consumir o alucinógeno.
“É muito comum que, em algum momento, os usuários de droga em processo de recuperação caiam na tentação, mas aqueles vacinados não vão ficar “altos” e vão perder o interesse na droga”, explica Kosten. 
O pesquisador associou uma molécula de cocaína a uma proteína desativada de cólera para dar o alerta ao sistema imunológico. Em uma primeira fase de estudo, foram feitos testes com camundongos que reagiram satisfatoriamente à vacina. Em 2007, o medicamento foi testado pela primeira vez com pessoas.

As vacinas fazem com que o organismo perceba a molécula de droga como uma ameaça. Assim, os anticorpos a atacam e a impedem de percorrer a corrente sanguínea até chegar ao cérebro. (ilustração: Sofia Moutinho)

O resultado com humanos não foi tão positivo. Cerca de 40% dos usuários de droga vacinados não desenvolveram uma quantidade suficiente de anticorpos para bloquear o efeito da cocaína no cérebro. Além disso, alguns dos pacientes passaram a consumir dez vezes mais cocaína na tentativa de alcançar novamente o “barato” que a droga oferecia. 
“As pessoas têm uma diversidade genética muito maior do que os camundongos, por isso a resposta diferente; mas ainda assim a vacina é um grande avanço", explica Kosten, que conduz atualmente um segundo grupo de testes clínicos com previsão de término em 2014.