domingo, 14 de agosto de 2011

Um besouro de 115 milhões de anos

Inseto fóssil de grupo que reúne hoje algumas das principais pragas que atacam lavouras acaba de ser registrado no Brasil. A descrição da espécie, tema da coluna deste mês de Alexander Kellner, suscita uma nova possibilidade de coevolução entre plantas e insetos.


Um pequeno besouro de menos de 1 centímetro que viveu há 115 milhões de anos foi encontrado em rochas da Bacia do Araripe, no Nordeste do Brasil. (foto: José Ricardo Mermudes)

Não há como negar que os achados de animais vertebrados no registro fossilífero – tais como dinossauros e pterossauros – acabam despertando maior interesse nas pessoas do que notícias de trabalhos sobre invertebrados ou plantas.
No entanto, não são somente os ossos – alguns grandes, outros não – que trazem contribuições relevantes para a compreensão da evolução da vida no nosso planeta. Às vezes, o estudo de criaturas pequenas, que passam facilmente desapercebidas por pessoas distraídas, abre uma nova janela de possibilidades na pesquisa paleontológica.
Esse é justamente o caso de Arariperhinus monnei, um pequeno besouro de menos de 1 centímetro descoberto por Márcia F. de Aquino Santos (Museu Nacional/UFRJ) e colegas e cuja descrição acaba de ser publicada na revista Palaeontology.

Paraíso dos insetos fósseis

A nova espécie foi encontrada em uma rocha formada por calcário laminado que faz parte da Bacia do Araripe, uma das principais regiões para pesquisas paleontológicas do nosso país. Seus afloramentos se estendem pelos estados do Ceará, Pernambuco e Piauí.
Rochas e fósseis encontrados na área revelam vários momentos distintos, mas dois são bem marcantes: a existência de um grande lago (ou um conjunto de lagos) de água doce de 115 milhões de anos que deu lugar a uma laguna (de água salgada) há 110 milhões de anos. As primeiras camadas da bacia recebem o nome de Formação Crato e as seguintes, de Formação Romualdo.
Já foram registradas nessa formação em torno de 300 (!) espécies diferentes de insetos
Arariperhinus monnei é procedente das camadas mais antigas, que revelaram também alguns peixes, penas e uma boa diversidade de plantas. Mas são os insetos, encontrados em grande quantidade e excepcionalmente bem preservados, que dão destaque à Formação Crato, cujas rochas podem ser consideradas um verdadeiro paraíso para quem se interessa por fósseis desses invertebrados.
Já foram registradas nessa formação em torno de 300 (!) espécies diferentes de insetos, que representam dezenas de grupos, desde libélulas até abelhas e mosquitos extintos. Mas são os coleópteros – mais conhecidos como besouros, entre eles, joaninhas e vaga-lumes – que dominam a fauna de insetos fósseis desse depósito, a exemplo do que ocorre nos dias de hoje.